quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tarde da noite...

"Resolveu desmontar aquela imagem, buscar o que seria primordial já que era o primeiro dos viventes, completamente só. Com as mãos, fazia derreter tudo o que ali existia. Os traços e as máscaras tornavam-se cicatrizes e as cicatrizes tornavam-se outra coisa, confusa, distinta, que precisava ser também apagada. Viu todos os homens e todas as mulheres. Todas as etnias e todas as civilizações. Viu tudo que existiria depois do homem primordial. Tudo retrocedeu na figura de seu rosto e chegou a um compacto e inconcebível nada.

Foi possível então ouvir um surdo som de agonia que saia, gutural, pela boca que não mais existia. Aquele era também o som elementar, o som antes de todos os homens, antes de tudo: urros de dor em silêncio, de forma seqüencial e alternada.

Quando o homem acreditou ter chegado ao ponto máximo depois de tudo, percebeu que seria infinda a busca e que nada desapareceria por debaixo do que foi desfeito, debaixo dos urros e dos surdos berros, dos rostos que se entreolharam desfeitos e exaustos por milênios. Tornou a fechar forte os olhos. Foi aí que percebeu que estava de novo em pé, num elevador."


em breve, lançamento de QU4RTO DESAMP4RO! Não percam!


3 comentários:

  1. Danilo que coisa linda!!
    Visceral!
    Senti como se estivesse dentro de um elevador que de repente dá um tranco ...sem aviso e sem piedade...e para talvez prá me dar tempo de sorver seu texto!
    Adorei e já tô seguindo!!
    Beijos!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Uma hora da manhã...A madrugada chega e, no momento da reconstrução, dou de cara com um texto desses...fragmentos ficcionais que revelam "todos reais"...todos...zumbis da (meia) noite...que se (des) cobrem, retomando essências esquecidas e, acovardados, voltam a se (re) cobrir das máscaras do mundo!
    Belo texto, rapaz! Parabéns!
    Continue produzindo, sempre!
    beijos,
    Andressa

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